OS NORMAIS 2 - A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS

Quando Rui e Vani saíram do ar, no auge do sucesso do programa de TV, “Os Normais” deixaram vários órfãos. Eu sou um deles e foi com muita expectativa que me levantei da cama em um domingo de ressaca para assistir “Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas”. Afinal, passaram-se seis anos da estréia de “Os Normais - O filme” e da exibição do último episódio do programa.

E a tal da noite começa quando Vani decide apimentar o relacionamento e topar uma idéia antiga do Rui: fazer um ménage-à-trois. Claro que o que poderia ser até bem simples para qualquer casal normal, para Rui e Vani é o início de uma noite problemática, que reserva muitas surpresas e encontros inusitados com um time de coadjuvantes de luxo, com destaque para Cláudia Raia e Drica Moraes.

Quem conhece a série sabe que esta está longe de ser a noite mais maluca de todas, entre todas as que já foram protagonizadas pelo casal. Diferente do primeiro filme, que antecede-se à série para contar uma história obediente à estrutura clássica do começo-meio-fim, “Os Normais 2” se parece mais com um episódio duplo, que poderia se encaixar em qualquer uma das temporadas e passaria batido, não fosse a exibição na tela grande.

Falta capricho no roteiro de Alexandre Machado e Fernanda Young; um certo primor e excelência no diálogos. Pois todo mundo sabe que a graça de “Os Normais” está no que é dito e não necessariamente nas situações. Cada frase solta por Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres vem carregada de um tom cômico único, que nenhum outro casal de atores conseguiu até hoje imitar. É um humor ágil, rápido, teatral.

Também falta firmeza na direção de José Alvarenga Júnior. Embora alguns movimentos de câmera dêem até um tom sexy à algumas cenas, a maioria delas é convencional, em planos sufocantes/televisivos. A edição agrava as coisas quando comete os mesmos erros do primeiro filme, trazendo à estrutura do cinema telas episódicas, legendas desnecessárias e até câmera lenta (deus, como eu odeio câmera lenta).

Ah, então não valeu a pena sair de casa em um domingo de ressaca para ver “Os Normais 2”? Imagine! Vale a pena sim. Porque nenhum tropeço consegue tirar o brilho de dois personagens tão queridos e importantes da teledramaturgia brasileira. Tão importantes que, após sete anos e na era do You Tube, ainda têm força para sustentar um longa-metragem nas costas e por si só já ser garantia de público e de muitas risadas.

Nota: 7,0

BRÜNO


Em 2006, quando "Borat" chegou aos cinemas, em meio a onda anti-americana que pairava sobre Hollywood, não consegui enxergar no filme algo mais do que piadas grosseiras e talvez um pouco de sadismo. Embora Sacha Baron Coehn seja a(u)tor desprendido de qualquer compromisso ético ou moral (uma qualidade de poucos), para mim não passava de uma mistura bizarra entre Jim Carrey e Michael Moore.

Felizmente, "Brüno" chega aos cinemas alguns anos depois, partindo de um tema mais batido, porém menos em voga (o ‘vale-tudo’ pela fama), e expõe com as atitudes extremas do personagem título, o preconceito implícito e a falta de escrúpulos da sociedade atual. E embora o 'campo de pesquisa' de Coehn seja novamente os E.U.A., as reações documentadas por ele são universais. E quem sabe as atitudes de Brüno também.

Brüno é um apresentador austríaco, afetado e fashionista, que após se envolver num incidente num desfile é banido da indústria fashion em seu país. Decide então partir para os E.U.A. e com a ajuda de seu assistente Lutz, se tornar a maior celebridade austríaca desde Hitller(!!!).

Diferente de "Borat", em "Bruno" é mais difícil distinguir ficção e realidade: Será que uma mãe realmente submeteria a filha que ainda engatinha à uma lipoaspiração, para que a menina participe de uma sessão de fotos? Seria mesmo tão violenta a reação de um público de homens e mulheres heterossexuais diante de um beijo gay? O que é mais assustador: ficção ou realidade?
Penso que o mais assustador é não saber o que é o que. E aí está o grande trunfo de "Brüno": há passagens tão grotescas e tão impactantes que fazem você se perguntar se aquilo é mesmo possível.

Mas claro, por via das dúvidas é melhor não saber, encarar o filme apenas como um besteirol bizarro, no estilo irmãos Wayans, e sair do cinema reclamando do dinheiro gasto para ver esta “droga” de filme, como fez pelo menos 50% do público da sessão em que eu estive. E é por conta das somas de todos esses 50% espalhados pelo mundo afora que filmes como "Brüno" infelizmente têm que existir para de vez em quando embrulhar nossos estômagos.

Nota: 9,5

preta, preta, pretinha

Depois de ver Alcione invocando Dr. Fritz e Padre Marcelo Rossi no palco do Monte Líbano, chegou o dia, ou melhor, a noite da outra atração "de peso" do mês de agosto.
Prepare o figurinho e passe tinta no cabelo: Preta Gil traz sua "Noite Preta" à festejada pista da boate Mixed Club no próximo sábado, dia 29. A festa conta ainda com os DJ´s Fernando Aguilar e Absinto, que vão acalmar os ânimos (ou tocar fogo de vez) antes e depois da apresentação da cantora/performer/atriz/apresentadora que, além das faixas de seus álbuns “Pret-à Porter” e “Preta”, promete um repertório no mínimo inusitado, que vai de Xuxa (Doce Mel) à "Barato Total (Gal Costa).
Noite Preta estreou no Rio de Janeiro, na casa noturna Cinemathéque Jam Club, que tem capacidade para 300 pessoas. Pouco tempo depois, Preta Gil já lotava o Espaço Laranja com o dobro de público.
Rapidamente o trabalho tomou conta das noites cariocas. O show conquistou o palco da famosa boate The Week, onde a cantora realizou várias apresentações, atraindo cerca de dois mil fãs a cada performance. O sucesso do show motivou Preta Gil a investir definitivamente na carreira de cantora e a viajar com sua música pelo Brasil.
Curiosos? Pode apostar que estamos.

Ouça: Estéreo -> www.myspace.com/pretagiloficial
Sem dúvida, a melhor faixa gravada pela cantora. Com muito swing, vibe oitentista e letra espertíssima, "Estéreo" foi feita pra botar fogo na pista.

Veja: Estéreo Ao Vivo na The Week


Site Oficial: www.pretagil.com.br

Casa

É que um dia eu olhei você dormindo
E você estava sorrindo
É que aí então eu percebi
Que nunca mais vou conseguir tirar você de mim

Deixei a porta aberta pra você entrar
E se aconchegar no sofá
Eu decorei a casa toda pra você
Eu preparei a cama pra te receber

Vou colocar aquele velho LP
Só pra ouvir você acompanhar
Aquele som que Caetano e Gil fizeram
Pra nos dilacerar

Vem, pode entrar
Eu estava a te esperar
Vou te servir o jantar
Te convidar pra sentar

Você fica tão bem assim
Olhando intenso pra mim
Você parece um anjo assim
Voando dentro de mim

Pousando no meu jardim
No santuário que fiz pra você
Com as flores que eu colhi pra te receber
O teu lugar é aqui

O teu lugar pra ficar
E nunca mais se enganar
Nunca mais se machucar
Eu te protejo aqui

Eu me desfaço por ti

Se for pra te ver dormir

Se for pra te ver sorrir

Eu me despeço assim

Com o que resta de mim

E é você.

Hoje teve reunião.

La porcina

Minha visão da gripe suína.

Olha pra lua, menino

Olha pra lua, menino
escuta o que ela tem pra te dizer
ela já viu mais de mil vezes
e sabe-se lá quantas vezes mais verá
o que está pra te acontecer

Olha pra lua, menino
tenta escutar antes de amanhecer
porque enquanto a cidade dorme
é que fica mais fácil de se entender

Menino, corra pra a calçada, deite no chão
olhe pro céu e faça uma oração

Agradeça, peça, mas não se esqueça

Que quando a lua se for
pode ser que se vá também com ela
o teu grande amor.

puta:!

"se" - primeira demo do projeto PUTA:! - para os aflitos e para os que amam.
SE [versão demo]

oração do gari

Brigado meu Deus pela porcaria!

Brigado pela sobra da janta,
pelos prástico e os papel.

Brigado meu Deus pelos copo quebrado,
as bituca de fumo e os baraio amassado.

Brigado meu Deus pelas ropa véia,
e pelas ropa nem tão véia, mas que num se usa mais.

Brigado meu Deus pelo papelão,
pelos brinquedo usado e os carçado furado.

Brigado meu Deus pelo leite azedado, o danone estragado
E o pão nosso embolorado de cada dia, nos dai hoje - Brigado.

Brigado meu Deus por tudo essa gente
que fala bunito e sempre foi na escola,
mas vumita tanto lixo de dentro pra fora
que carece de mim duas veiz por semana,
pra passá correndo e levá imbora.

sobre watchmen

Talvez o melhor de filme de (anti?) heróis já realizado. Watchmen traz às telas uma história genial, emocionante e extremamente humana, na qual a linha que separa mocinhos, vítimas e bandidos é quase imperceptível. Os 'vigilantes' são o tipo de herói que ninguém quer ser; mas isso não torna difícil o ato de se apaixonar por eles.

sobre 'quem quer ser um milionário'

Ao contrário da Folha de São Paulo e de alguns cinéfilos cafonas, eu adorei 'Quem quer ser um milionário?'. Acho uma ousadia dar 8 Oscars para um filme sobre a periférica cultura indiana e com músicas da M.I.A. na trilha sonora. Aliás, 'Slumdog Millionaire' é como um vIdeoclipe da M.I.A., só que com 120 minutos de duração.

A Normal

Acordou despenteada
Esmagada por um sonho ao qual não quis voltar

Deu um jeito no cabelo enquanto pensava no cardápio do café
Mas não era habituada a pensar

Mais um dia normal, fez tudo exatamente igual

Anormal que se tornara

Sonhou o dia inteiro com pessoas e lugares que nunca verá
À noite, um beijo no conjugue*
Ela teve sorte e ele não dormiu,
Então, naquela noite, sentiu algo próximo de um orgasmo
Ou algo próximo do que ela acredita ser um orgasmo

Uma noite normal, um sentimento banal
São pessoas normais
Não é isso que todos querem, afinal?

E antes de dormir lhe ocorreram pensamentos impuros
Os que não deveriam passar pela cabeça normal de mãe ou esposa
Rolou pela cama, enquanto o conjugue roncava alto

Já não é tão confortável o colchão, como era há 30 anos

Uma madrugada normal uma inquietação que se tornou rotina uma rotina que se tornou vício um vício que consumiu sua beleza sua vontade sua juventude a normal que nunca quis ser

Anormal que já foi um dia:
Flower-power, tropicália, ervas perfumando a mente

A normal que nunca quis ser:
( )

Anormal que tanto quis ser diferente

E acabou igual


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* Convencionou-se chamar o marido de conjugue, tão burocrática tornou-se a relação dos dois.

areia fina ou olhos grandes e negros


É como uma maldição
Um karma que vai me acompanhar para sempre

Não me impedirá de viver, eu sei
Mas também sei que a cada curva da vida, tua presença me faltará

E é tudo culpa dos teus olhos...

Teus olhos grandes e negros
que parecem refletir em negativo a lua cheia

Teus olhos grandes e negros
que me abriram a janela da tua alma

E me convidaram a mergulhar em cheio
na aventura que foi te conhecer

São teus olhos grandes e negros que virão à minha mente
Naquelas tardes ociosas de domingo
ou nas noites em que o sono não vem

E quando eu finalmente conseguir dormir,
brilharão em meus sonhos para me cegar

Duas luas no crepúsculo dos meus sonhos,
Teus olhos grandes e negros...

E há o teu sorriso infantil;
é nele que vou pensar quando eu quiser apenas não pensar

E há o teu nome exótico;
que virá a minha boca, quando minha boca não for tua

E há o nada
O nada é o que eu posso fazer, além de aceitar

...
Mas não pense você que tudo isto me parece ruim,
mesmo não sendo a mais confortável das condições

Tenho que admitir que me sinto orgulhoso,
pois eu sei o que é o amor, eu o reconheço

Bem diferente de você,
que o está deixando escapar entre os dedos, como areia fina

E como areia fina,
o vento sopra e leva as partículas do amor embora

Existem, porém, lugares onde toda a areia fina repousa
e são acariciadas por águas salgadas, que um dia chamaram-se lágrimas

À este lugar, os humanos deram o nome de praia...
e nas praias, os humanos que, como você, esqueceram o rosto do amor
divertem-se e celebram sua eterna falta

Dançam; como num ritual pagão, pisoteando seus próprios amores
Amores que o orgulho, a imaturidade e o idealismo deixaram escapar,

Escapar como areia fina, que escorre pelos dedos,
que voa com o vento...

Será que você não vê ou finge não ver?
Tua cegueira voluntária é digna de um estudo científico

Você, que teima em procurar nos amantes
as qualidades que faltam em ti

E eu, que atravesso teus olhos grandes e negros
e uma vez dentro de ti, encontro muito daquilo que mais gosto em mim...

...
Se eu pudesse, jogaria a areia fina
em teus olhos grandes e negros;

Não por maldade ou vingança,
e sim para te alertar que os opostos se destroem

Mas isso só o tempo vai te ensinar
E que ele seja piedoso contigo,
e
não
borre
com
águas
salgadas
o
negro
dos
teus
olhos

Pai?

8h26
O som de um serrote ao fundo o fez acordar de um delicioso sonho matinal. Indagou-se por um instante, mas não lutou contra o sono que ainda havia.
...
9h17
Marteladas fizeram-no despertar novamente. Mas deduziu que talvez ainda estivesse em sua cabeça o bate-estaca exaustivo da boate da noite passada.
...
10h30
O barulho do vidro tocando agressivamente o chão o fez pular da cama. Tentou imaginar o que seu gato vira-latas havia aprontado na cozinha desta vez. Resolveu deixar para mais tarde a apuração dos danos, afinal, era segunda-feira, seu dia de folga, e não precisava ter pressa.
...
11h45
O cheiro de peixe frito invadiu suas narinas sem pedir licença. Gostava do cheiro de peixe frito, mas não gostava do cheiro de peixe de frito desejando-lhe ‘bom dia’.
‘A vizinha prepara o almoço cedo demais’, pensou, pouco antes de voltar a dormir.
...
12h10
A vinheta grosseira do noticiário regional fez tremer as paredes do quarto. A TV estava num volume tão alto, que era possível ouvir claramente os últimos dados da pesquisa do Ibope para as eleições municipais. Assustou-se. Mas desta vez resolveu não pensar. Tinha esse direito, era segunda.
...
12h55
Uma voz conhecida falava ao telefone e parecia exageradamente equalizada por uma euforia bárbara. Desta vez levantou-se, enrolou-se no lençol e foi até a sala.

- Pai?
- Oi!
- O que você está fazendo aqui?
...
Foi assim que descobriu que seu pai havia se aposentado. Naquele momento soube que seus dias de folga jamais seriam os mesmos.

A vernissage dos corpos


O verão transborda o desejo. A estação que esquenta, que desnuda e que neutraliza o pudor, também aguça o faro, o olfato, o tato, o paladar e, principalmente, a visão. As formas estão salientes. As cores se intensificam. A sensualidade é quase corriqueira. À flor da pele estamos, ainda que longe da próxima primavera.

Ter um corpo perfeito é quase obrigação. Gabam-se alguns, lamentam-se outros. Mostram-se aqui, escondem-se acolá. Faço parte da parcela que lamenta, mas não se esconde. Se meu corpo não é perfeito em curvas e músculos, o que mais posso fazer além de admirar os corpos que o são, entre um gole e outro de caipirinha de maracujá?

É aí que surge o verdadeiro prazer do não-ser. Um corpo perfeito é uma obra de arte a ser absorvida. Nós, que não o temos, somos admiradores, curadores, amantes de sua beleza. Corpos perfeitos, devidamente marcados por sungas e biquínis, são convites ao olhar, ao deleite, à discussão; assim como um Picasso ou Dalí. Praias e piscinas são museus naturais, expondo o que há de belo e de novo. Boutique de carnes finas e bronzeadas. Excitam. Aguçam. Reinam.

Não faz parte de minha proposta discutir o quão bem faz à auto-estima ter um corpo escultural. Só estes nobres esforçados sabem o quanto sofreram para chegar até ali, o quanto pouparam-se, o quanto esforçaram-se. São artistas colhendo o fruto de um ano inteiro de trabalho duro. O verão é a vernissage dos corpos.

Um artista e sua obra, porém, não fazem sentido sem o público. Ninguém trabalha meses em algo se não for para exibi-lo, entregá-lo aos leões para que estes o devorem. O ego de um artista jamais estará completamente inflado se não houver resposta, seja ela boa ou ruim. O silêncio está para o artista como a água está para o fogo.

Por isso contento-me, e até empolgo-me, em ser platéia. À platéia reservam-se os maiores prazeres: o riso, as lágrimas, o êxtase, os aplausos e as vaias.

A euforia de despertar um desejo jamais será maior do que a de ter um desejo despertado.

E que assim seja até a chegada do outono.

_ o cara


Eu conheci um cara de caras e bocas
De nomes e de grifes, de gosto duvidoso
O cara vestia um terno com botões dourados

Praticava escalada indoor e kung-fu
Talvez por necessidade de auto-afirmação
Talvez para esconder suas tendências homossexuais - ou mesmo satisfazê-las
Ou para conseguir companhia e alguma história chata para contar no café

O cara usava uma máscara fiel a um rosto humano
Mas que era tão frágil quanto seu caráter
Que se rompia no segundo gaguejar de suas palavras cínicas

O cara vinha de família rica, assim dizia,
Dessas que tem bois e herança
Fincadas no coronelismo da cidade das borboletas

Esse cara gabava-se de ter depressão
Ostentava seu tarja preta como se fosse um rolex
E ia ao urologista duas vezes por semana
Com medo que uma gripe o deixasse estéril

O cara escrevia um diário no bloco de notas do Windows
Lá reclamava do pai, da madrasta, da namorada, dos sócios
E dos conflitos que sua dieta sem fritura causava em casa

O cara não sabia rir de coisas bobas
Não tinha amigos sinceros, nem ninguém para sentar na calçada
Mas lia Vida Simples, tinha notebook, palmtop
E todo tipo de parafernália criada para substituir pessoas

O cara tinha as piores idéias,
Por que acreditava que elas eram as melhores
Tinha as piores atitudes,
Por que é assim que agem os yuppies

Aliás, tudo que ele sempre quis na vida é ser um yuppie
Por que um yuppie está sempre muito ocupado
E não tem tempo para pensar no quão medíocre é sua existência

Convivi com esse cara diariamente nos últimos três anos
Às vezes sentia raiva dele, às vezes pena
Mas na maioria das vezes sentia nojo

Sabe quando você vê uma pomba agonizando?
Tem vontade de ajudar, mas aí lembra que o bicho tem um monte de doenças e prefere passar reto, ignorar?
Era assim que eu me sentia em relação ao cara

Três anos foram suficientes para que o cara me presenteasse
Com uma empresa falida e uma dívida considerável no banco
Previsível, eu diria

A esta altura, o Cara deve estar rindo da minha cara
Quer saber, cara? Pode rir à vontade.
Eu ri muito mais de você nos últimos três anos.

_de volta ao meu aconchego

Eu nunca quis um blog estilo “querido diário”. Precisaria passar muitas vezes na fila da transparência ou criar um pseudônimo bastante convincente para poder expor minha vida na internet. A fila da transparência eu já perdi, e provavelmente ela ficava bem ao lado da fila da genialidade literária. Sem diarinhos, portanto.
Mas também estou cansado de ter um blog “crítico”. Não sei se alguém se importa o suficiente com a minha opinião para dar sentido ao que escrevo. Existe muita gente fazendo isso, com mais técnica e mais competência.
Um dos motivos de eu ter ficado um bom tempo sem postar no PQP, é que já estava me tornando um pseudo-crítico totalmente parcial. Ficou difícil ver e ouvir coisas ruins pelo simples prazer de comentar. Talvez os meus 25 anos colaborem um pouco para que isto aconteça. Já sei do que gosto e do que não gosto. Não faz sentido perder tempo com o que não gosto.
Que isto não seja entendido como medo de experimentar. Adoro novidades, acho que isso ficou claro com tudo o que escrevi aqui e no Popular e Erudito. Depois que se faz 25, você percebe como o tempo é valioso e que deve ser gasto apenas com coisas boas. Afinal, as ruins vão aparecer de qualquer forma, não é necessário procurá-las.
Isso ta parecendo um post de despedida, então, mudemos o rumo desta prosa.
Eu não quero que o PQP se transforme em um blog “querido diário”, mas tampouco quero que continue com as pseudo-críticas. Continuo gostando de comentar sobre o que ouço, leio e vejo, mas daqui pra frente, isso virá de forma mais leve, menos lapidada, mais despretensiosa. Despretensão. Oi? Essa palavra existe? Se existir, é essa a palavra.
Há pouco mais de um mês, me chamou a atenção uma matéria da Folha de São Paulo, sobre um movimento virtual intitulado Slow Blog. Trata-se de um grupo de blogueiros que testam a paciência e a fidelidade de seus leitores, produzindo textos longos e bem elaborados, postados em ritmo desacelerado. Alguns chegam a ficar meses sem publicar.
Gostei disso. Por que minha vida é acelerada demais. Há tanta informação e tão pouco tempo para absorver. Meu pé está saindo do acelerador. É hora de ser mais humano e menos mecânico. Não que eu vá ler “Vida Simples” e comprar um cd do Coldplay, não é isso. Até porque, na minha humilde opinião, esta revista elitizada e a banda do Chris Martin são tão honestas quanto o Paulo Maluf.
Mas acho que de vez em quando faz bem colocar aquele LP antigo do Balão Mágico na vitrola empoeirada, só pra ouvir o chiado inimitável da agulha arranhando o vinil.
Não sei se o PQP vai se transformar num Slow Blog. No momento a resposta seria talvez. Escrever é uma boa terapia, e eu sou do tipo de pessoa que jamais publica um texto após lê-lo mais de duas vezes.
Acredito que o PQP será, daqui pra frente, um caderno de rascunhos. Vou tentar me expressar de uma forma divertida, como sempre fiz, mas quero me reconhecer no que escrevo. Quero usar minhas palavras, colocar as vírgulas onde eu bem entender (mesmo que esteja errado). Também quero usar mais imagens e talvez colocar algumas músicas que produzo (porcamente, mas produzo). Afinal, toda forma de expressão é válida. A linguagem escrita monopolizou os blogs. Talvez por isso os blogueiros que publicam seus desenhos, gravuras e quadrinhos tenham ganhado tanto a minha admiração.
Enfim, antes tarde do que nunca, o Pensa que é Pop volta à ativa. No mesmo endereço, com o mesmo layout, e, espero, com os mesmos leitores. Afinal, eu é que mudei. A questão aqui é: faz alguma diferença?